Coluna de opinião por Samoel Andrade — Diretor Nacional de Políticas Públicas da Rede Observatório BPC
Publicação quinzenal | Coluna Independente
Somos deixados de lado pelos governos e invisíveis na sociedade
No Brasil, a pessoa com deficiência quase nunca é pauta prioritária. Somos lembrados apenas em tempos de eleição ou em datas simbólicas, como o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência. Fora desses momentos, enfrentamos o silêncio, o descaso e o esquecimento.
No último dia 23 de maio, o IBGE divulgou dados impactantes do Censo Demográfico de 2022, revelando quem somos e o tamanho da desigualdade que enfrentamos.
Segundo os dados, o Brasil possui 14,4 milhões de pessoas com deficiência – 7,3% da população com dois anos ou mais. Desse total, 8,3 milhões são mulheres e 6,1 milhões são homens.
As principais dificuldades relatadas são:
- Enxergar: 7,9 milhões de pessoas
- Andar ou subir degraus: 5,2 milhões
- Pegar objetos pequenos ou abrir tampas: 2,7 milhões
- Ouvir: 2,6 milhões
A deficiência cresce com a idade. Entre pessoas com 70 anos ou mais, 27,5% têm algum tipo de deficiência. Já entre crianças de 2 a 14 anos, o percentual é de apenas 2,2%.
O retrato educacional é alarmante
Em 2022, havia 2,9 milhões de pessoas com deficiência analfabetas – isso representa 21,3% desse grupo, quatro vezes mais do que a taxa entre pessoas sem deficiência (5,2%).
Apenas 7,4% conseguiram concluir o ensino superior, contra 19,5% da população sem deficiência. A maioria — 63,1% — não concluiu sequer o ensino fundamental.
Os dados regionais escancaram a desigualdade
Nos lares brasileiros, 16% têm pelo menos um morador com deficiência. No Nordeste, esse número sobe para 19,5%. Alagoas é o estado com a maior proporção (9,6%), seguido por Piauí, Ceará e Pernambuco.
O problema é mais grave em domicílios sem saneamento: 19,3% dos lares sem banheiro têm pessoas com deficiência.
A realidade dos povos indígenas
Entre os povos indígenas, 7,9% das pessoas têm alguma deficiência. Esse número sobe para 30,6% entre os indígenas com 65 anos ou mais, com maior incidência no Nordeste (42,4%) e Norte (33,5%).
O que os números revelam?
A deficiência no Brasil está diretamente ligada à pobreza, à exclusão, à falta de acesso à saúde, educação e infraestrutura. Não é apenas uma questão de saúde — é uma questão de justiça social.
A ausência de políticas públicas nos torna invisíveis. Seguimos sendo tratados como estatística ou como vitrine política em datas específicas, mas esquecidos no cotidiano.
O que exigimos
- Políticas públicas reais, não promessas
- Educação de qualidade
- Acessibilidade universal
- Oportunidades de trabalho
- Saúde e assistência social digna
Não somos invisíveis. Somos 14,4 milhões de brasileiros com deficiência. Somos cidadãos. E exigimos respeito, dignidade e presença nas políticas públicas.
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